Projeto do CCT transforma resíduos perigosos em material descontaminado, acessível e útil

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Transformar material descartado em produtos utilizáveis e aptos a serem consumidos pela população é uma das maiores buscas da ciência nos tempos atuais. E é isso que faz o Laboratório de Gestão Ambiental e Tratamento de Resíduos, o Labger, do Centro de Ciências e Tecnologia da UFCG. Mais que isso inclusive: lá, materiais perigosos (“Classe I”), que seriam despejados no lixo com alto poder de contaminação, são convertidos em não perigosos (“Classe II”), termo técnico (e autoexplicativo) para definir que os produtos se tornam acessíveis e não mais oferecem riscos à sociedade.

O Labger, que está ligado à Unidade Acadêmica de Engenharia Química, tem como uma de suas metas apresentar soluções e novas perspectivas de tratamento na área de resíduos, que podem ser sólidos, líquidos ou gasosos. Quanto aos sólidos, o trabalho já está bem encaminhado. Trata-se de uma pesquisa desenvolvida e aplicada pelo professor André Fiquene, doutor em Engenharia Ambiental. O projeto, existente desde 2007 e com aplicabilidade real trabalhada a partir de 2013, consiste em tratar resíduos que, segundo o professor, “já não servem para nada”. É o caso, por exemplo, do lodo têxtil, lodo de curtume, resíduos de laboratório, caulim e até de resíduos de granito e de petróleo, este último também conhecido por “borra oleosa”.

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“Basicamente estamos falando de resíduos, ou seja, do que sobra após determinados materiais serem utilizados. Pense em um copo com água, açúcar, areia. Se mexermos bem, parece que temos uma mistura uniforme. Mas com o tempo, partículas vão se acumulando no fundo. Esse resto não é aproveitado de forma alguma, e podemos trazer esse exemplo para nosso contexto”, explica o professor. “Na verdade, no nosso caso, é ainda pior porque, além de não ter mais utilidade, os resíduos com os quais trabalhamos podem atingir o solo, o lençol freático, prejudicando diretamente o homem”, completa, exemplificando ainda mais com o caso específico do petróleo: “quando o petróleo é extraído e estocado nas refinarias, é tudo misturado uniformemente em tanques. Mas com o tempo, partículas de borra oleosas vão se cumulando no fundo desses tanques. Essa  borra não é aproveitada para nada”.

O trabalho encabeçado por Fiquene, então, busca atenuar a presença de metais pesados e contaminantes presentes nesses resíduos. Entenda-se: cobre, zinco, cromo, alumínio, corantes, mercúrio, anilina e outros. É o que os especialistas chamam de “tratamento físico-químico usando estabilização por solidificação”. De forma fácil: mistura-se o resíduo com areia, brita e cimento (eventualmente, cal ou argila também podem ser utilizados) em um molde cilíndrico, feito de aço. O composto repousa por 28 dias, formando uma matriz ao final, o material estabilizado e solidificado. Assim, os contaminantes ficam “aprisionados” ou “retidos na matriz” – realizando-se os devidos testes de absorção de água, resistência à compressão e lixiviação (retenção de metais pesados) – e já não representam perigo à sociedade.

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E aí? A partir de agora, começa a etapa de aplicabilidade. E são muitos os usos.

“Estudamos as questões químicas, mas tudo, todas as engenharias estão interligadas. A natureza e seus fenômenos são uma coisa só. Por isso, há uma ponte direta entre nós e o pessoal de outras engenharias, como a Civil e a de Materiais, e as aplicações podem ser inúmeras”, enfatiza Fiquene, lembrando que tudo tem de estar de acordo com as leis, como a Legislação Ambiental, e os materiais são produzidos dentro dos padrões recomendados pela ABNT 10.005/04, que regulamenta o “procedimento para obtenção de extrato lixiviado de resíduos sólidos”.

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Basta olhar para o chão para ver uma das aplicações do novo material produzido. A partir da matriz de cimento, calçamentos podem ser desenvolvidos, por exemplo. De forma limpa, segura e reciclável.

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